quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O intrépido padeiro

Por James Roosevelt da Silva - Técnico de Enfermagem / Base Manaus


Muitas lendas e mitos cercam o imaginário de quem quer que visite o interior da Floresta Amazônica, e eu como amazonida, já ouvi muito relatos. Como era gostoso sentar na área comum da sonda no final de um dia de trabalho, após o jantar, e ouvir outros companheiros embarcados, principalmente o pessoal que desbrava as locações...

Nossa! Como já ouvi relatos de aparições fantasmagóricas, de “chupadores de anta”, e de um tal de “caboclinho”, que atormenta os viajantes na selva e ataca os agressores da floresta; além de contatos com onça e outros animais, dos quais inclusive somos invasores de seu habitat.

Conheci um colaborador da empresa que faz a termonebulizações das locações, e, anteriormente, trabalhava em uma empresa de sísmica: esses trabalhadores devem caminhar mata a dentro, levando equipamentos necessários para seu trabalho e alimentação, e em um desses dias, esse colaborador fadigado da caminhada resolve olhar para seu lado direito e vê uma onça preta a poucos metros do chão, observando o comboio. Seu instinto de sobrevivência falou mais alto: ninguém sabe quem gritou mais alto, se foi ele ou se foi o bicho que se assustou e partiu na direção oposta rasgando mato. Segundo relatos do colaborador “o grito foi intencional para espantar o bicho”! (rs)

Outra história que ouvi do próprio protagonista foi uma aparição sobrenatural, envolvendo o padeiro da sonda: estávamos em uma locação nova e a sonda estava em DTM. A locação era tão nova que ainda dividíamos com o pessoal que prepara a locação. Às as duas da manhã o padeiro já com seu serviço atualizado resolve então visitar o padeiro da outra equipe para trocar algumas experiências ou bater papo...

Enfim, ao sair do acampamento da QGOG deparou-se com uma cena que nunca mais esquecerá: em pleno DTM às duas da manhã, veio em sua direção uma figura melecada de graxa do capacete às botas. Imediatamente veio à mente do padeiro a figura do Pedrão (mecânico da QG-3 que havia morrido no inicio do ano, figura muito querida que era facilmente reconhecido por andar sempre “melado” de graxa).
Automaticamente, o padeiro foi acometido por um medo incontrolável que o petrificou; encostando-se ao trailer no corredor de saída do acampamento, estático,
não deu tempo nem de rezar.
O padeiro só observou aquele ser sobrenatural de corpo inteiro passando a sua frente sem olhar para ele. Foi como se não estivesse ali, e talvez não estivesse mesmo: acho que estava em outra dimensão (comentário do autor)... A figura então retira o capacete já a uma distância do estático padeiro e ao retirar o capacete sujo de graxa mostra uma calvície igualzinha a do finado. Pronto! Acometido pelo pânico, o padeiro só tem força para voltar à copa e tremer.

Passou-se dias e então descobriu-se que a figura do além não passava do supervisor de elétrica, que estava em um mutirão realizando manutenção preventiva nos geradores.

 Acredito que todos os sentimentos de medo, angústia nunca serão esquecidos
pelo intrépido padeiro.

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